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SEXTA-FEIRA, 12 DE SETEMBRO DE 2014 | 14:25
 
Mineradoras criticam custo elevado no embarque
 
A queda nos preços do minério de ferro, que está em um dos menores patamares dos últimos anos, abre uma discussão entre mineradoras brasileiras que não têm porto próprio sobre os custos logísticos para se exportar a commodity. Essas mineradoras, situadas em Minas Gerais, consideram que a tarifa portuária pode inviabilizar a exportação no atual cenário de preços do minério de ferro. Tudo depende do nível em que a tarifa pelo serviço portuário for fixada. A discussão se concentra nas operações feitas via Itaguaí (RJ). O município, na região metropolitana do Rio, está reforçando sua posição como "hub" (porto concentrador) para a exportação de minério de ferro na região Sudeste do país.

"Temos ainda hoje no Brasil uma tarifa portuária supervalorizada. Esse cenário era suportado anteriormente pelo alto preço do minério de ferro no mercado internacional. Hoje, porém, não podemos pensar somente em tarifa portuária. É importante analisar toda a cadeia de logística, da mina ao porto. Além do porto, há necessidade de redução no preço ferroviário também, que é muito alto", disse Sebastião Costa Filho, presidente da ArcelorMittal Mineração Brasil. Em Itaguaí, existe um porto público administrado pela Companhia Docas do Rio de Janeiro (CDRJ), onde operam dois terminais para a exportação da commodity: um da Vale e outro da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN).

A Vale está investindo R$ 350 milhões para modernizar e maximizar a capacidade do seu terminal em Itaguaí, administrado pela Companhia Portuária Baía de Sepetiba (CPBS), e no vizinho Terminal de Ilha Guaíba (TIG). Esses dois terminais da Vale vão embarcar 66 milhões de toneladas de minério de ferro em 2014, 6,4% acima de 2013. A CSN teve aprovado, pela Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), projeto que prevê investimentos de R$ 2,5 bilhões no terminal de granéis sólidos (Tecar) da empresa em Itaguaí em troca de prorrogação de contrato por 25 anos.

Ao lado do Porto de Itaguaí, vai começar a funcionar, até o fim do ano, o Porto Sudeste, vendido pela MMX, de Eike Batista, em fevereiro, para consórcio formado pela trading Trafigura e por Mubadala, empresa de Abu Dhabi. Está claro, por outro lado, que investimentos em expansão anunciados por mineradoras de médio porte em Minas Gerais podem não mais se realizar, pelo menos por enquanto, conforme se previu originalmente. Muitos dos projetos foram anunciados quando os preços da commodity situavam-se na faixa dos US$ 130 por tonelada no mercado à vista da China. Ontem, esse preço atingiu US$ 85,70, a menor cotação em quase cinco anos.

Costa Filho, da ArcelorMittal, disse que o plano de expansão da empresa em Minas Gerais permanece aguardando as perspectivas de evolução do mercado. "Mas estamos sempre caminhando no que tange a estudos de viabilidade, licenciamentos e [projeto] conceitual", afirmou. Este ano a ArcelorMittal deve produzir 4,3 milhões de toneladas de minério de ferro. Já a Usiminas Mineração (Musa), outra mineradora de médio porte, deve produzir este ano 7 milhões de toneladas de minério de ferro.

"Temos hoje no Brasil uma tarifa portuária supervalorizada e o preço ferroviário é alto", diz ArcelorMittal

A situação atual parece ser, portanto, de um cenário de maior capacidade portuária do que oferta de produto para ser embarcado via Itaguaí, especialmente via Porto Sudeste. Os terminais da Vale e da CSN no Porto de Itaguaí têm demanda cativa das duas empresas que utilizam a infraestrutura disponível no local para escoar a produção própria de minério de ferro de Minas Gerais. Tanto Vale quanto CSN costumam abrir "janelas" para ofertar serviços de embarque para terceiros. No fim de julho, a Vale abriu "janela" para embarque de dois lotes de minério de ferro de terceiros, cada um de 700 mil toneladas, no seu terminal.

Um dos lotes foi ganho pela Ferrous Resources, de Belo Horizonte, que ofereceu pagar à Vale tarifa de US$ 17,04 por tonelada. No outro lote, o preço ofertado ficou na faixa de US$ 14 por tonelada, abaixo do mínimo de US$ 17 por tonelada estabelecido no leilão, e não houve negócio. Ferrous e Vale não quiseram comentar o leilão por haver cláusulas de sigilo. Para uma fonte do setor, o leilão demonstrou que o porto de Itaguaí não está completamente aberto para mineradores que queiram exportar. "Quando se trata de logística, as margens [entre quem vende e quem compra o serviço] têm que estar distribuídas de forma racional", disse o executivo. Ele defendeu que os preços mínimos para embarque de minério de ferro em Itaguaí sejam revistos para baixo.

Apesar da queixa, a Vale planeja embarcar este ano cerca de 4,2 milhões de toneladas de minério de ferro de terceiros utilizando seu dois terminais na região Sudeste do país. Desse total, 1,2 milhão de toneladas será escoado via Porto de Tubarão, no Espírito Santo, e 3 milhões de toneladas via terminal da CPBS, em Itaguaí.

Claudio Soares, diretor de planejamento e relações comerciais da CDRJ, disse que se uma empresa se sentir prejudicada por entender que as tarifas cobradas no porto são altas pode entrar com pedido de reclamação perante a Docas, que é a autoridade portuária de Itaguaí. Mas por enquanto não houve reclamações. Soares disse que o projeto do terminal do Meio, em Itaguaí, quando for licitado, poderá ter uma função importante de regular o mercado naquela região. O Terminal do Meio é um projeto antigo para licitar um novo terminal de granéis sólidos no Porto de Itaguaí, entre as instalações da Vale e da CSN.

Enquanto isso, na vizinhança, o Porto Sudeste trabalha com a previsão de começar as operações no começo do último trimestre de 2014, afirmou o diretor de operações do novo terminal, Eugênio Mamede. No mercado há dúvidas, porém, sobre quais serão as tarifas cobradas pelo Porto Sudeste dado o atual cenário de preços do minério de ferro. O Porto Sudeste tem um contrato firme ("take or pay") para embarque com a Usiminas cuja tarifa foi fixada em US$ 12,63 por tonelada. Os primeiros embarques estabelecidos nesse contrato deviam ter ocorrido em 2012 e 2013. Mas as obras do porto atrasaram e os embarques não foram realizados. Hoje, a dívida do porto com a Usiminas nesse contrato ultrapassa os R$ 300 milhões.

No mercado, existem avaliações de que haveria pouco espaço para o Porto Sudeste cobrar de novos clientes tarifas muito acima dos US$ 12 por tonelada, como acertado com a Usiminas, no contexto atual de mercado. "O Porto Sudeste tem vocação para ser referência em terminais portuários de minério de ferro e estratégico para atender o mercado brasileiro, portanto seu potencial é de médio a longo prazo", disse Mamede. Ele afirmou que o porto deve atingir a capacidade nominal total, de 50 milhões de toneladas por ano, em 2016. No mercado, também se questiona se o porto terá capacidade de pátio, na atual configuração, para atingir essa capacidade nominal.

Sobre esse ponto Mamede afirmou: "Esperamos que haja um aumento de demanda gradual até o alcance da capacidade prevista para a primeira fase de 50 milhões de toneladas por ano." Os primeiros carregamentos de minério pelo Porto Sudeste devem ser feitos com navios Panamax, com capacidade de 75 mil toneladas, mas depois embarcações maiores vão atracar no porto, informou. (Colaborou Olivia Alonso, de São Paulo)

Fonte: Valor Econômico\Francisco Góes
 
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