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QUINTA-FEIRA, 20 DE FEVEREIRO DE 2014 | 07:28 | |
Roberto Rodrigues vê outro ano positivo | |
Apesar da forte queda dos preços dos grãos e de sinais de alerta que podem ter efeito negativo sobre a demanda por biocombustíveis no médio prazo, sobretudo a partir do desenvolvimento do gás de xisto nos EUA, a agricultura brasileira deve ter outro ano positivo em 2014. Essa é a avaliação do coordenador do Centro de Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues.
"As principais commodities ainda estão com estoques mundiais menores do que os estoques históricos, o que cria um colchão de renda, dado que os preços continuam acima da média histórica recente", afirmou Rodrigues, em entrevista ao Valor. Além disso, segundo ele, a valorização do dólar diante do real deve ajudar a compensar as cotações mais baixas de soja e milho, fruto da recomposição de oferta após a safra recorde dos EUA.
"As perdas eventuais que vamos ter no valor das commodities podem ser compensadas pela valorização cambial", disse Rodrigues. Segundo ele, o cenário é mais róseo para os produtores de soja do país do que para os de milho, que devem amargar queda nas exportações devido à concorrência com o grão produzido nos EUA, maior exportador global da commodity.
Na safra 2012/13, colhida no ano passado, as exportações brasileiras de milho atingiram o recorde de 26,2 milhões de toneladas, segundo dados do Ministério da Agricultura. No período, o Brasil exportou milho até mesmo para os EUA, que sofriam com a escassez do cereal após a já histórica estiagem que atingiu as lavouras do Meio-Oeste americano em 2012. Agora, há uma oferta abundante do milho, o que tende a dificultar exportações brasileiras.
Se o cenário é mais difícil para os produtores de milho, é positivo para o setor de carnes que deve se beneficiar da redução das cotações do cereal, segundo o ex-ministro. "A demanda por carnes é crescente. Então, se os preços do grãos caírem um pouco em dólar, vai melhorar o resultado dos produtores de carne e agregar valor na cadeia", observou.
Na avaliação de Rodrigues, nem mesmo a desaceleração do crescimento da China - principal responsável pelo boom de commodities iniciado nos anos 2000 - será prejudicial para o agronegócio brasileiro em 2014.
"Tenho a impressão que o 'problema China' não existe no curto prazo. A China diminuiu o crescimento, mas a demanda por alimentos é inelutável", afirma ele. Além disso, o processo de urbanização do gigante asiático é um "dado da realidade" que só contribui para elevar a demanda, "Mais gente deixa de produzir para o próprio consumo", disse.
Apesar de seu otimismo sobre o desempenho da agricultura brasileira, Rodrigues considera que existem "três importantes culturas agrícolas" em dificuldades no país: café, cana-de-açúcar e laranja. No primeiro caso, o problema é "estrutural", disse. "Os preços do café estão baixos porque há excesso de oferta, e a demanda não tem crescido na mesma velocidade. Eliminar o diferencial de estoques é um processo lento e doloroso". Nesse contexto, o clima quente e seco que atinge regiões produtoras de café do Brasil pode até 'contribuir' para enxugar o excesso de oferta do grão no mercado.
No caso da laranja, o problema também é de elevada oferta, mas o ajuste parece estar próximo. "A crise da laranja foi muito pior que a do café. Mas estoques de suco começam a se aproximar do equilíbrio", disse ele. A cana-de-açúcar, por sua vez, sofre com o controle de preços da gasolina feito pelo governo federal. Com isso, limita-se o preço do etanol, cuja produção lida com custos crescentes, afirmou Rodrigues.
Para além do curto prazo, o ex-ministro vê alguns riscos de "perturbações" nos mercado de grãos. Em sua avaliação, "as regras americanas e europeias para biocombustíveis podem sinalizar menor demanda por grãos para produzir biocombustíveis no futuro". Segundo ele, o desenvolvimento do gás e do óleo oriundos do xisto "embaralha" o futuro dos biocombustíveis. "Surgiu uma variável nova, mais imediata", afirmou. Notório defensor da 'agroenergia", Rodrigues não entrega os pontos: "o xisto é fóssil e um dia vai acabar".
Fonte: Valor Econômico |
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