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JUEVES, ABRIL, 07, 2011 | 10:47
 
Irrigação beneficia só 7% da área plantada no Brasil
 
A agricultura brasileira é considerada um case de sucesso. Mas poderia ser ainda mais bem-sucedida, consumindo menos água, se o país adotasse um zoneamento ecológico e os agricultores aderissem a uma técnica tão antiga quanto as pirâmides do Egito: a irrigação.

A tecnologia é aplicada em apenas 4,5 milhões dos mais de 60 milhões de hectares cultivados do país, o que equivale a cerca de 7% de toda a área plantada e a pouco mais de 15% dos 29 milhões de hectares de terras consideradas irrigáveis, segundo dados da Agência Nacional de Águas (ANA). Mais de 90% da área agrícola do Brasil, portanto, ainda está à mercê do clima.

Em terras irrigadas, a produção aumenta pelo menos 30% em relação às dependentes do regime de chuvas, o que proporciona otimização do uso de água. A agricultura é o setor que mais consome água no Brasil, cerca de 35%, de um total anual em torno de 100 milhões de litros, s egundo Laerte Scanavaca, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente.

É a participação média do setor, segundo ele, no consumo de água em todo o mundo, exceto nos países que adotam irrigação em larga escala, como Israel e Estados Unidos. Os americanos têm 30% da área plantada irrigados, de acordo com Scanavaca.

No Brasil, a água para irrigação provém dos rios - quase não se emprega água de chuva no processo. Segundo dados da ANA, dos 2 mil m3 por segundo retirados dos corpos d"água, 47% destinam-se à agricultura e demais usos rurais.

Nos arredores de Petrolina, entre Pernambuco e Bahia, onde se cultivam basicamente frutas (em especial manga e uva) ainda se usa a técnica egípcia, de canalização para terras baixas, facilitada pela topografia. Na região de Cristalina (GO), onde floresce grande variedade de vegetais, frutas e grãos, as culturas estão principalmente em terras altas e são irrigadas por bombeamento, a partir do represamento de água dos rios durante a época de cheia. Para Alécio Maróstico, superintendente de Irrigação do Estado de Goiás, ali se aproveita água de chuva, "que de outro modo correria para o mar".

Ele conta que uma mesma área pode produzir 50 toneladas de batatas por ciclo da cultura se for irrigada, mas apenas 25 toneladas se contar apenas com a instável ocorrência de chuvas: "E a qualidade é muito melhor, porque a rega é controlada". Maróstico também lembra que não se perdem safras em áreas irrigadas e se pode colher mais de uma safra por ano das mesmas culturas. Segundo Scanavaca, a diferença de preço entre o produto de época e o obtido fora de época pode chegar a 100%.

Em Cristalina, 50 mil hectares são irrigados, aproximadamente 16% da área plantada do município, de 300 mil hectares. Em toda a região, as terras irrigadas atingem cerca de 100 mil hectares, de acordo com Maróstico. A meta do Estado é irrigar, num período superior a 10 anos - e desde que haja mercado - mais 120 mil hectares, o que demandaria so mar mais 150 represas às 100 já instaladas.

Para Maróstico, o impacto das barragens na natureza é compensado pela redução da pressão pela abertura de novas áreas agricultáveis no Cerrado e pela redução do consumo de água na produção de alimentos.

Ele lembra que, quando os agricultores do Sul chegaram a Goiás, na década de 1980, plantavam soja, milho, arroz e algodão e só trabalhavam durante seis meses do ano, já que os outros seis são de estiagem. Agora, afirma, algumas fazendas trabalham o ano todo, empregam mais funcionários por área cultivada e pagam salários mais altos aos trabalhadores, que, assim, vêm se fixando na região.

Se depender do aumento da demanda de alimentos é bem provável que o Estado de Goiás confirme seus planos de expansão das áreas de irrigação. A produção mundial de alimentos precisa crescer de 70% a 80% nos próximos anos para atender à demanda crescente, de acordo com Devanir Garcia dos Santos, gerente de uso sustentável de água e solo da ANA: "Estamos na iminência de um novo impulso da agricultura. E o caminho mais adequado a seguir é a irrigação porque proporciona aumento de produtividade".

Apesar de todos os benefícios, somente agora o governo federal está criando um órgão exclusivo para a irrigação, uma secretaria no âmbito do Ministério da Integração Nacional, que estuda a possibilidade de instituir tarifa especial de energia elétrica para a agricultura como forma de estimular a adoção da tecnologia.

A adoção do zoneamento ecológico que levasse em conta os dados de consumo das culturas, além dos relativos a clima e temperatura, também seria um avanço, de acordo com Scanavaca. O eucalipto, por exemplo, retém tanta água no solo quanto as florestas nativas, que absorvem 70% do volume das chuvas, por sete longos anos até a época do corte. Mesmo assim, o eucalipto costuma ser apontado como predador de água do solo. Já as terras cultivadas com cana-de-açúcar retêm somente 30% da água das precipitações, média da agricultura brasileira e de todas as culturas herbáceas.

Fonte: Agrolink
 
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